No meu trajeto de ônibus da Tailândia para o Camboja eu estava sem celular e isso dificultou a viagem, que virou uma novela. Eu perdi o ônibus que tinha programado pra pegar e me arrisquei em pegar outro que me levou sabe Deus pra onde e na hora que eu perguntava para as pessoas, todos me davam informações erradas para me obrigar a comprar um opção carríssima com eles. A viagem se tornou super longa, mas com sorte cheguei na fronteira pouco antes de escurecer e fiz um amigo motociclista alemão que morava na cidade para a qual eu estava indo. Dividimos um taxi, porque não tinha mais nenhum ônibus saindo naquela noite e
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acredite, lá deve ser o que chamamos de fim do mundo. Por muuuitos kilometros não existia nada, as rodovias tinham buracos que entravam o carro todo dentro, o motorista era um ninja porque por várias vezes eu acreditei que não teríamos como continuar caminho. Mas em uma parada ganhei o melhor presente de boas-vindas: o céu mais iluminado que já vi na vida brilhava sobre mim e foi como um sinal de que ficaria tudo bem.

Chegamos em Sihanoukville, dormi na casa dos alemães-motociclistas-malucos que foram gente finíssima comigo e no outro dia eles me deixaram no centro da cidade. E lembro que saquei o resto de dinheiro que eu tinha para pagar o taxi que tínhamos dividido na noite anterior. Naquele momento eu estava sozinha, sem dinheiro (pq tinha sido furtada e o dinheiro do Brasil ainda não estava disponível no cartão) e sem um lugar para dormir. Lembro que tinha os últimos $10 dólares em um cartão e fui no único mercado que aceitava cartão comprar água, banana e pão. Fiquei mais de 24 horas sem nenhum dinheiro e mais uma vez pessoas incríveis estavam lá para me ajudar.
Passado o perrengue, fui pra uma ilha chamada Koh Rong, onde eu planejava fazer um voluntariado. O lugar é incrível, praias lindas, isolado do mundo e sem eletricidade a noite. Fiz bons amigos lá e estava empolgada para ficar, mas a ilha tinha bastante turistas e as crianças já tinham esse contato com a lingua Inglesa e com outras culturas, concluí que poderia ajudar mais se estivesse em algum lugar menos turístico e desisti. Acabei indo para Siem Reap e depois de ir em alguns lugares e não me indentificar, achei a escola onde eu fiquei voluntariando por 1 mês. Era tudo muito básico e lembro que muitas noites não dormia com o barulho dos ratos no teto. Sofria com o calor também. As crianças cambojanas eram mais difíceis de lidar que as tailandesas e eu tive que me adaptar em classe. Eu precisava andar pelo meio das plantações de arroz para chegar na escola, mas toda vez que chegava lá, eu entendia o porque de estar ali. Tudo fez ainda mais sentido quando, com a ajuda de doações de amigos e conhecidos, foi possível construir uma casa ali no terreno da escola que se chama "Home of Hope" e que em sua frente tem uma placa de agradecimento a generosidade do Brasil. Foram $800 dólares e uma semana para a construção. Tão simples e tão grandioso. |
Segui viagem para Phnom Penh para conhecer melhor a história de genocídio recente pela qual o país passou e entender um pouco mais da realidade que vivem as pessoas cambojanas, em um país tão corrupto e miserável. Estava na hora de seguir viagem e descobrir as surpresas que o Vietnã guardava para mim.