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"Hoje, eu tenho muito mais medo de não viver do que de morrer. Já que a morte é inevitável e imprevisível, enquanto a vida é uma escolha diária..."
- Leticia Mello
- Leticia Mello
Tenho recebido muitas mensagens de viajantes que estão organizando sua próxima viagem e me pedem dicas sobre como planejar um voluntariado mundão a fora. A minha experiência foi na Ásia, então escrevi de acordo com o que eu vivi pelas minhas andanças por lá. 1) NÃO SEI POR ONDE COMEÇAR. Analise o seu orçamento e por quanto tempo pretende viajar. Pesquise valores nos lugares que você tem interesse e oportunidades de voluntariado com o que você pretende trabalhar (animais, educação, construção, medicina, as opções são muitas). Ao final disso você provavelmente já eliminou algumas opções e vai conseguir definir um ponto de partida. Depois de definido os lugares, eu usava dois fatores para me organizar: clima em cada região/país e calendário de festas locais. Não se preocupe com detalhes muito minuciosos, você encontrará respostas para eles ao longo do caminho. Dica extra da Lele: Milhas podem ser valiosas nessas horas. 2) PESQUISE MUITO. Você optou por não pagar valores absurdos para uma agência que iria dar a você (e a qualquer um que pague) a informação mastigada. Você escollheu voluntariar de forma independente, então se prepare para fazer o trabalho sujo. O Google está aí para isso. Pesquise muito, faça contatos e pergunte a quem já foi. E saiba distinguir o que é informação relevante e confiável, nessas horas confie no seu sexto sentido de explorador, ele não falha. A pesquisa vai fazer você economizar tempo durante a sua viagem (ao invés de ficar no computador, você vai poder ir pro bar do hostel conhecer pessoas). Mas eu disse pesquisar, colher informações, ter várias cartas na manga e não bolar um plano detalhado que você vai seguir a risca, isso, jamais, siga seus instintos o máximo que puder enquanto estiver na sua jornada. Dica extra da Lele: Pesquisas em inglês geram maiores resultados. 3) SEJA HONESTO. Se o seu inglês é fraco, não se inscreva para dar aulas de inglês. Se eles precisam de ajuda na construção, analise se você conseguirá fazer o trabalho. Assim como é difícil para você encontrar um lugar bacana para voluntariar, as instituições sofrem com pessoas que dão informações incorretas e na hora do vamos ver, não tem nada para oferecer. Dica extra da Lele: Na Ásia a maioria dos voluntariados é para ajudar em escolas e instituições, seja para dar aulas de inglês básico ou para você ensinar para os alunos alguma habilidade sua. 4) VOLUNTARIADO NÃO É SINÔNIMO DE FÉRIAS. Infelizmente muitas pessoas se aproveitam das instituições que trocam o trabalho voluntário por acomodação e alimentação para viver um período do que elas acham que são férias gratuitas. É muito fácil distinguir quem está lá para contribuir ou para se aproveitar da situação e, se for o caso, prepare-se para ser convidado a se retirar, pois eles precisam da ajuda dos voluntários para projetos que não geram lucros a eles, que são tocados pela generosidade das pessoas. Não seja o idiota a estragar um trabalho bonito. Dica extra da Lele: Se você procura um lugar de graça para ficar, o CouchSurfing é uma ferramenta que está aí para isso. 5) VOCÊ VAI QUEBRAR A CARA. É uma realidade triste, mas é muito difícil encontrar locais sérios para voluntariar. Se você não tiver a indicação de alguém e fizer como eu, que fui arriscando de lugar em lugar, quebrar a cara fará parte do seu roteiro. A parte positiva disso é que geralmente esse tipo de situação vai refletir a realidade do país e você vai lembrar mais uma vez de deixar suas convicções de lado e ter um pouco de empatia por pessoas desconhecidas. Muitas pessoas não fazem isso por maldade, mas pela necessidade de sobrevivência. Isso não torna a atitude correta, mas também não te dá o direito de jogar pedras. Dica extra da Lele: Em alguns sites as pessoas deixam avaliações sobre a instituição, não confie 100% nelas, se possível entre em contato com a pessoa para saber maiores informações. Algumas instituições forçam a situação para que a pessoa deixe um comentário bacana. 6) PREPARE-SE PARA O PIOR, SEMPRE. O banho será de caneca e água fria, a sua cama será um colchonete no chão coberto por uma rede de mosquitos, você pegará piolho, as crianças serão difíceis de lidar, o clima será muito quente e abafado ou choverá muito o dia inteiro, o voluntário da Irlanda chegará bêbado nos finais de semana e te acordará no meio da madrugada e não vai ter nada para fazer no seu tempo livre. Já ia esquecendo, sem internet. É assim que a nossa mente funciona, se prepare para o pior e o seu voluntariado será um sucesso. Esqueça tudo o que você acha que sabe e recomece do zero. Tente entender a vida local, o porque e como as coisas funcionam dessa maneira. Toda vez que eu escuto alguém dizer que precisa de algo para viver, como “Eu preciso de uma xícara de café pela manhã antes de sair de casa”, eu lembro que aprendi a não precisar de nada e ser camaleoa. Adapte-se, você vai viver a melhor experiência da sua vida se você se entregar ao que se propôs a fazer. Dica extra da Lele: Não se desespere, tem internet em praticamente tudo quanto é canto na Ásia (só não espere acessar o Facebook na China). 7) NÃO DESISTA. Por mais difícil que seja, lembre-se que pessoas estão sendo beneficiadas pela sua boa vontade de estar ali. Afeto, sorriso, presença. Tudo isso muda aos poucos a vida de uma criança, dá a elas esperança e alegria. Eu falo muito das crianças porque a maioria dos meus trabalhos foi com elas e sou suspeita para falar, mas acho que recompensa maior não há. Imprevistos vão acontecer, de todos os tipos, afinal, você escolheu sair da sua zona de conforto e quando você retornar a ela, você vai dar muito valor a cada dificuldade, a cada imprevisto e a cada momento em que você precisou ser forte mesmo tendo vontade de largar tudo. Vá em frente, acredite nos seus sonhos e não desista. Dica extra da Lele: Do For Love, always.... (Faça por amor, sempre) |